Novo Testamento


Novo Testamento




O Cristianismo, nas suas etapas iniciais, considerou o Antigo Testamento como a sua única Bíblia. Jesus, como os seus discípulos e apóstolos e o resto do povo judeu, citou-o como “as Escrituras”, “a Lei” ou “a Lei e os Profetas” (cf. Mc 12.24; Mt 12.5; Lc 16.16).
Com o passar do tempo, a Igreja, tendo entendido que em Cristo “as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17), produziu muitos escritos acerca da vida e da obra do Senhor, estabeleceu e transmitiu a sua doutrina e estendeu a mensagem evangélica a regiões cada vez mais distantes da Palestina. Dentre esses escritos foi-se destacando aos poucos um grupo de vinte e sete, que pelos fins do séc. II começou a ser conhecido como Novo Testamento. Eram textos redigidos na língua grega, desiguais tanto em extensão como em natureza e gênero literário. Todos, porém, foram considerados com especial reverência como procedentes dos apóstolos de Jesus ou de pessoas muito próximas a eles.
O uso cada vez mais freqüente que os crentes faziam daqueles vinte e sete escritos (convencionalmente chamados “livros”) conduziu a uma geral aceitação da sua autoridade. A fé descobriu, sem demora, nas suas páginas a inspiração do Espírito Santo e o testemunho fidedigno de que em Jesus Cristo, o Filho de Deus, cumpriam-se as antigas profecias e se convertiam em realidade as esperanças messiânicas do povo de Israel. Conseqüentemente, a Igreja entendeu que os escritos hebraicos, que chamou de Antigo Testamento, requeriam uma segunda parte que viesse a documentar o cumprimento das promessas de Deus. E, enfim, após um longo processo e já bem avançado no séc. V, ficou oficialmente reconhecido o cânon geral da Bíblia como a soma de ambos os Testamentos.

Divisão do Novo Testamento
Desde o séc. V, o índice do Novo Testamento agrupa os livros da seguinte maneira:
1. Evangelhos (4) (a). Sinóticos (3) Mateus
Marcos
Lucas
(b). João
2. Atos dos Apóstolos (1)
3. Epístolas (21) (a). Paulinas (13) Romanos
1Coríntios
2Coríntios
Gálatas
Efésios
Filipenses
Colossenses
1Tessalonicenses
2Tessalonicenses
1Timóteo
2Timóteo
Tito
Filemom
(b). Epístola aos Hebreus (1)
(c). Universais (7)
Tiago
1Pedro
2Pedro
1João
2João
3João
Judas
4. Apocalipse (1)
Essa catalogação dos livros do Novo Testamento não corresponde à ordem cronológica da sua redação ou publicação; é, antes, um agrupamento temático e por autores. Talvez, deve-se ver nesse agrupamento o propósito de apresentar a revelação de Deus e o anúncio do seu reino eterno a partir da boa nova da encarnação (Evangelhos) até a boa nova do retorno glorioso de Cristo no fim dos tempos (Apocalipse), passando pela história intermediária da vida e da incumbência apostólica da Igreja (Epístolas).
A transmissão do texto
É realmente extraordinário o número de manuscritos do Novo Testamento que chegou a nós depois de tantos séculos desde que foram escritos. Ao todo, são mais de 5.000. Alguns são apenas pequenos fragmentos, tão deteriorados pelo tempo e pelas más condições ambientais, que a sua utilidade é praticamente nula. Mas são muito mais numerosos os manuscritos que, no todo ou em parte, se conservaram num estado suficientemente satisfatório para transmitir até o presente a sua mensagem e testificar assim a fidelidade dos cristãos que os escreveram.
Assim sendo, os manuscritos que conhecemos não são autógrafos, isto é, nenhum provém da mão do próprio autor. Todos, sem exceção, são cópias de cópias dos textos originais gregos ou de traduções para outros idiomas. Copistas especializados pacientemente consagrados a esse labor de muitos anos de duração, os produziram nos lugares mais diversos e no decorrer de séculos.
As cópias mais antigas até agora conhecidas são papiros que datam do séc. III, procedentes do Egito.
O papiro é uma planta abundantemente encontrada às margens do Nilo. Da sua haste, cortada e prensada, preparavam-se tiras retangulares, que se uniam formando folhas de uns 30 centímetros de largura e vários metros de comprimento. Uma vez escritas, enrolavam-se as folhas com o texto para dentro, atando-as com fios.
Os rolos de papiro eram de fácil fabricação, mas o seu manejo era incômodo. Ademais, tanto a umidade como o calor seco danificavam o material e impediam a sua prolongada duração. Por isso, em substituição ao papiro, entre os séculos II e V, se difundiu o uso de pergaminho, que era uma folha de pele de ovelha ou cordeiro especialmente curtida para poder-se escrever nela. Esse novo material, bastante mais custoso que o anterior, porém muito resistente e duradouro, permitiu, primeiro, a preparação de cadernos e, depois, o de códices, isto é, livros na forma em que os conhecemos atualmente. Entre os diversos códices da Bíblia descobertos até o dia de hoje, os mais antigos e, simultaneamente, mais completos são os chamados Sinaítico eVaticano, ambos datados do séc. IV.
Palestina romana
Jesus nasceu em fins do reinado de Herodes, o Grande (47 a 4 a.C.). Homem cruel (cf. Mt 2.1-16) e, sem dúvida, inteligente, distinguiu-se pela grande quantidade de terras e cidades que conquistou e pelas numerosas e colossais construções com que as dotou. Entre estas, o templo de Jerusalém, do qual apenas se conservaram uns poucos restos pertencentes à muralha ocidental (o Muro das Lamentações).
Após a morte de Herodes (Mt 2.15-19), o seu reino foi dividido entre os seus filhos Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. Arquelau (Mt 2.22), etnarca da Judéia e Samaria, foi deposto pelo imperador Augusto no ano 6 d.C. A partir de então, o governo esteve em mãos de procuradores romanos, entre eles Pôncio Pilatos, que manteve o cargo desde o ano 26 até 36. Herodes Antipas (Lc 3.1) foi tetrarca da Galiléia e Peréia até o ano 39; e Filipe (Lc 3.1), até 34 o foi da Ituréia, Traconites e outras regiões orientais do Norte (Ver a Cronologia Bíblica).
No ano 37, o imperador Calígula nomeou rei a Herodes Agripa e o colocou sobre a tetrarquia de Filipe, à qual logo acrescentou a de Herodes Antipas. Com a morte de Calígula (assassinado no ano 41), o seu sucessor, Cláudio, ampliou ainda mais os territórios de Agripa com a anexação da Judéia e Samaria. Desse modo, Agripa reinou até a sua morte (44 d.C.), praticamente sobre toda a Palestina.
Antipas foi aquele que mandou prender e matar a João Batista (Mc 6.16-29); e Herodes Agripa foi quem perseguiu a igreja de Jerusalém e mandou matar a Tiago e prender a Pedro (At 12.1-19). O Novo Testamento fala também de outro Herodes Agripa, filho do anterior: o rei que, acompanhado da sua irmã e mulher Berenice, escutou o discurso pronunciado por Paulo em sua própria defesa, em Cesaréia (At 25.13—26.32).
Por detrás de todos esses personagens se manteve, sempre vigilante, o poder romano. Roma era quem empossava ou demitia governantes nos países submetidos ao seu domínio, conforme lhe convinha. Durante a vida de Jesus e até à destruição de Jerusalém no ano 70, sucederam-se em Roma sete imperadores (ou césares). Três deles são mencionados no Novo Testamento: Augusto (Lc 2.1), Tibério (Lc 3.1) e Cláudio (At 11.28; 18.2). E há um quarto, Nero, cujo nome não é mencionado, a quem Paulo faz tácita referência ao apelar ao tribunal de César (At 25.10-12; 28.19).
A Palestina fazia parte do Império Romano desde o ano 63 a.C. Essa circunstância significara a perda definitiva da sua independência nacional. Dois longos séculos de agitação política a tinham levado a um estado de irreparável prostração moral, de que Roma, pela mão do general Pompeu, aproveitou-se apoderando-se do país e integrando-o na província da Síria.
A fim de manter a paz e a tranqüilidade nos seus territórios, Roma atuava geralmente com muita cautela, sem pressionar excessivamente a população submetida e sem forçá-la a mudar os seus próprios modelos da sociedade, nem os seus costumes, cultos e crenças religiosas. Inclusive, às vezes, a fim de pôr uma nota de tolerância e boa vontade, consentia a existência de certos governos nacionais, como os de Herodes, o Grande, e dos seus sucessores dinásticos.
O que Roma nunca permitiu foi a agitação política e muito menos a rebelião aberta dentro das suas fronteiras. Quando isso ocorria, o exército se encarregava de restabelecer a ordem, atuando com presteza e com o máximo rigor. Foi isso que aconteceu no ano 70 d.C., quando Tito, filho do imperador Vespasiano, arrasou Jerusalém e provocou a “diáspora” (ou dispersão) de grande parte da população, a fim de acabar de uma vez por todas com as revoltas judaicas iniciadas uns quatro anos antes.



EVANGELHOS
Evangelho e Evangelhos
“Evangelho” é uma palavra de origem grega que significa “boa notícia”. Do ponto de vista da fé cristã, só há um evangelho: o de Jesus Cristo. Porque ele mesmo, o Filho de Deus encarnado na natureza humana (Jo 1.14) e autor da vida e da salvação (At 3.15; Hb 2.10; 12.2), é a boa notícia que constitui o coração do Novo Testamento e fundamenta a pregação da Igreja desde os tempos apostólicos até os nossos dias.
No entanto, visto que toda notícia supõe a comunicação de uma mensagem, chamamos também de “evangelho” o conjunto dos livros do Novo Testamento, que, sob a inspiração do Espírito Santo, foram escritos para comunicar a boa notícia da vinda de Cristo e, com ele, a do Reino eterno de Deus (Mt 3.2; 4.17; Mc 1.1,14-15; Lc 2.10; Rm 1.1-6,16-17). Nesse mesmo sentido, o apóstolo Paulo gosta de falar do “meu evangelho”, fazendo assim referência ao anúncio da graça divina que ele proclamava (Rm 1.1,9,16;16.25; 1Co 15.1; Gl 2.7; 2Tm 2.8): uma mensagem que já antes fora escutada em Israel (Is 35; 40.9-11; 52.7; 61.1-2a), mas que agora se estende ao mundo inteiro, a quantos, por meio da fé, aceitam Cristo como Senhor e Salvador (cf., entre outros, Rm 1.5; 5.1;6.14,22-23).
Num terceiro sentido, o uso tem generalizado a aplicação do termo “evangelho” a cada um dos livros do Novo Testamento (Mateus, Marcos, Lucas e João) que nos têm transmitido praticamente a totalidade do que sabemos acerca de Jesus: da sua vida e atividade, da sua paixão e morte, da sua ressurreição e glorificação.
Da perspectiva da fé cristã, a palavra “evangelho” contém, pois, uma tríplice referência: em primeiro lugar, a Jesus Cristo, cuja vinda é o acontecimento definitivo da revelação de Deus ao ser humano; em segundo lugar, à pregação oral e à comunicação escrita da boa notícia da salvação pela fé; e, por último, aos quatro livros do Novo Testamento que desde o séc. II se conhecem pela designação genérica de “os Evangelhos”.
Evangelhos e evangelistas
Tradicionalmente, os autores dos quatro primeiros livros do Novo Testamento recebem o nome de “evangelistas”, título que na Igreja primitiva correspondia às pessoas a quem, de modo específico, se confiava a função de anunciar a boa nova de Jesus Cristo (At 21.8; Ef 4.11; 2Tm 4.5. cf. At 8.12,40).
Durante os anos que se seguiram à ascensão do Senhor, a pregação apostólica foi sobretudo verbal, como vemos na leitura de Atos. Mais tarde, quando começaram a desaparecer aqueles que haviam conhecido Jesus em pessoa, a Igreja sentiu a necessidade de fixar por escrito a memória das palavras que haviam ouvido dele e dos seus atos que haviam presenciado. Durante certo tempo, circularam entre as comunidades cristãs de então numerosos textos referentes a Jesus, que, na maioria dos casos, eram simples apontamentos dispersos e sem conexão. Apesar do seu caráter fragmentário, porém, aqueles breves relatos representaram a passagem da tradição oral à escrita, passagem que presidiu o nascimento dos nossos quatro Evangelhos.
O propósito principal dos evangelistas não foi oferecer uma história detalhada das circunstâncias que rodearam a vida do nosso Senhor e dos eventos que a marcaram; tampouco se propuseram a reproduzir ao pé da letra os seus discursos e ensinamentos, nem as suas discussões com as autoridades religiosas dos judeus. Há, conseqüentemente, muitos dados relativos ao homem Jesus de Nazaré que nunca nos serão conhecidos, embora, por outro lado, não reste dúvida de que Deus já revelou por meio dos evangelistas (cf. Jo 20.30; 21.25) tudo o que não devemos ignorar. Na realidade, eles não escreveram para nos transmitir uma completa informação de gênero biográfico, mas, como disse João, “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (20.31).
Os Evangelhos contêm, pois, um conjunto de narrações centradas na pessoa de Jesus de Nazaré e escritas com um propósito testemunhal, para a edificação da Igreja e para a comunicação da fé. Mas isso não significa que os evangelistas manejaram sem cuidado os dados, as palavras e os fatos que recompilaram e que foram os seus elementos de informação. Pois, se bem que é certo que eles não trataram de escrever nenhuma biografia (ao menos no sentido específico que hoje damos ao termo), igualmente é que os seus escritos respondem com fidelidade ao discurso histórico tal e como era elaborado então, seja por haverem conhecido pessoalmente a Jesus ou por terem sido companheiros dos apóstolos que viveram junto dele.
A obra dos evangelistas nutriu-se especialmente das memórias que, em relação ao Senhor, eram guardadas no seio da Igreja como um depósito precioso. Essas memórias transmitiram-se no culto, no ensinamento e na atividade missionária, isto é, na pregação oral, que, durante longos anos e com perspectiva escatológica, foi o meio idôneo para reviver, desde a fé e em benefício da fé, o acontecimento fundamental do Cristo ressuscitado.
Os Evangelhos sinóticos
A simples leitura dos Evangelhos conduz logo a uma primeira classificação, que é resultante da constatação, de um lado, de que existe uma ampla coincidência da parte deMateus, Marcose Lucas quanto aos temas de que tratam e quanto à disposição dos elementos narrativos que introduzem; e por outro, o Evangelho de João, cuja aparição foi posterior à dos outros três, parece ter sido escrito com o propósito de suplementar os relatos anteriores com uma nova e distinta visão da vida de Jesus (acerca dos temas e dos fatos, ver as Introduções aos Evangelhos). Porque, de fato, com exceção dos acontecimentos que formavam a história da paixão de Jesus, apenas três dos fatos referidos por João (1.19-28; 6.1-13 e 6.16-21) encontram-se também consignados nos outros Evangelhos.
Daí se conclui que, assim como o Evangelho Segundo João requer uma consideração à parte, os de Mateus, Marcos e Lucas estão estreitamente relacionados. Seguindo vias paralelas, oferecem nas suas respectivas narrações três enfoques diferentes da vida do Senhor. Por causa desse paralelismo, pelas muitas analogias que aproximam esses Evangelhos tanto na matéria exposta como na forma de dispô-la, vêm sendo designados desde o séc. XVIII como “os sinóticos”, palavra tomada do grego e equivalente a “visão simultânea” de alguma coisa.
Os sinóticos começaram a aparecer provavelmente em torno do ano 70. Depois da publicação do Evangelho segundo Marcos, escreveu-se primeiro o de Mateus e depois o deLucas. Ambos serviram-se, em maior ou menor medida, da quase totalidade dos materiais incorporados em Marcos, reelaborando-os e ampliando-os com outros. Por essa razão, Marcosestá quase integralmente representado nas páginas de Mateus e deLucas. Quanto aos novos materiais mencionados, isto é, os que não se encontram emMarcos, uma parte foi aproveitada simultaneamente por Mateus e Lucas, e a outra foi usada por cada um deles de maneira exclusiva.
Apesar de que os autores sinóticos tenham redigido textos paralelos, fizeram-no de pontos de vista diferentes e contribuindo cada qual com a sua própria personalidade, cultura e estilo literário. Por isso, a obra dos evangelistas não surge como o produto de uma elaboração conjunta, mas como um feito singular desde seus delineamentos iniciais até a sua realização definitiva. Quanto aos objetivos, também são diferentes em cada caso: enquanto Mateuscontempla a Jesus de Nazaré como o Messias anunciado profeticamente, Marcos o vê como a manifestação do poder de Deus, e Lucas, como o Salvador de um mundo perdido por causa do pecado.
Vigência e atualidade dos Evangelhos
Para a comunidade cristã, o valor dos Evangelhos é insubstituível e permanente; ocupam um lugar único, tanto no âmbito geral da Igreja como no particular da devoção privada. Os Evangelhos são o único canal que conduz ao conhecimento da vida do nosso Senhor Jesus Cristo, pois não existe nenhum outro documento que o torne realmente presente. Ademais, põem de manifesto como o Espírito Santo inspirou nos evangelistas a boa nova da salvação, para que eles, por sua vez, proclamem-na com a sua própria voz, humilde e singela, mas chamada a fazer chegar a palavra de Deus a toda a humanidade.



MATEUS
Autor e objeto do Evangelho
Com notável unanimidade, a tradição da Igreja tem atribuído desde o séc. II a composição deste Evangelho a Mateus, o publicano (9.9; 10.3), chamado também de Levi, filho de Alfeu (Mc 2.14; Lc 5.27), o coletor de impostos a quem Jesus chamou e uniu ao grupo dos seus discípulos (10.1-4; Mc 3.13-19; Lc 6.13-16).
Tem-se afirmado que Mateus (= Mt) é por excelência o Evangelho da Igreja. Escrito para instruir acerca de Jesus Cristo o novo povo de Deus, apresenta-se diante do leitor como um texto de estrutura basicamente didática.
Características teológicas e literárias
É evidente que Mateus está mais interessado em coligir e apresentar na sua obra o pensamento de Jesus do que em dar-lhe um conteúdo puramente narrativo. Conseqüência desse enfoque é o fato de que o evangelista nos transmitiu um quadro enriquecedor da cristologia da Igreja primitiva, quadro que poderia ser resumido em quatro pontos fundamentais:
(1) Jesus de Nazaré, o Filho de Deus, é o Messias esperado pelo povo judeu.
(2) Em Jesus, descendente de Davi (1.6; 20.30-31; 21.9), cumprem-se as profecias messiânicas do Antigo Testamento.
(3) O povo judeu não chegou a compreender cabalmente a categoria espiritual nem a profundidade da obra realizada por Jesus em obediência perfeita à vontade de Deus.
(4) A rejeição de Jesus, o Cristo, por parte do Judaísmo palestino, projetou a mensagem evangélica ao mundo gentio, revelando desse modo o seu sentido universal.
Um traço característico deste primeiro Evangelho é a sua contínua referência ao Antigo Testamento, com o objetivo de demonstrar que as Escrituras têm o seu pleno cumprimento em Jesus (1.22-23; 2.15,17-18,23; 4.14-16; 8.17; 12.17-21; 13.35; 21.4-5;27.9-10). Mateus, mais do que Marcos e Lucas, faz citações abundantes da Lei e dos Profetas (5.17-18; 7.12; 11.13; 22.40) e, com freqüência, da fé em tradições e práticas religiosas dos judeus vigentes na época (cf., entre outras, 15.2; 23.5,16-23).
Mateus também nos apresenta Jesus como o intérprete infalível das Escrituras. Ele é o Mestre sem igual, que a partir da verdade e da autenticidade descobre a falsidade de certas atitudes humanas aparentemente piedosas, mas, na realidade, cheias de avidez para receber o aplauso público (6.1). Recordemos a crítica de Jesus quanto a dar esmolas a toque de trombeta (6.2-4), a respeito da vaidosa ostentação das orações feitas nos cantos das praças (6.5-8; 23.14) e a hipocrisia dos jejuns praticados com o propósito primordial de impressionar o povo (6.16-18).
Especialmente interessante é o tratamento que Mateus dá ao aspecto pedagógico da atividade de Jesus. Enquanto Marcos e Lucas associam as palavras do Senhor à ocasião em que foram pronunciadas,Mateus as dispõe de modo ordenado. Freqüentemente as reúne em amplas unidades discursivas, compostas com o objetivo de ajudar os crentes a aprendê-las de memória. Cinco delas, muito conhecidas, destacam-se pela sua extensão:
O sermão do monte 5.3—7.27
O apostolado cristão 10.5-42
O reino dos céus 13.3-52
A vida da comunidade cristã 18.3-35
O final dos tempos 24.4—25.46
Estes sermões ou discursos aparecem no Evangelho precedidos e seguidos por determinadas fórmulas literárias que servem de marco dramático a cada composição (5.1-2 e 7.28-29; 10.5 e 11.1; 13.3 e 13.53;18.1 e 19.1; 24.3 e 26.1). Por outro lado, não são estes os únicos discursos. Mateus contém muitos outros ensinamentos e exortações de Jesus aos seus discípulos (p. ex., 8.20-22; 11.7-19,27-30; 12.48-50; 16.24-28; 22.37-40), assim como admoestações dirigidas a escribas e fariseus (22.18-21; 23.1-36) ou, inclusive, a Jerusalém (23.37-38) e a algumas cidades da Galiléia (11.20-24).
O tema predominante na pregação do Senhor é o Reino de Deus (9.35), geralmente designado neste Evangelho como “reino dos céus” e focalizado na sua dupla realidade, presente (4.17; 12.28) e futura (16.28). A proclamação da proximidade do Reino é também o anúncio de que Jesus encarrega os seus discípulos (10.7), aos quais, depois de ressuscitado, prometeu a sua permanência duradoura no meio deles: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (28.20).
Mateus escreve a sua obra seguindo, em linhas gerais, o esquema de Marcos, mesmo quando a cada passo põe o seu selo pessoal nos textos que redige. Quanto aos materiais narrativos utilizados, se bem que muitos sejam comuns a Marcos e Lucas, há cerca de um quarto que Mateus emprega de maneira exclusiva.
Os relatos de Mateus, mais concisos que os de Marcos, apresentam um rigoroso e belo estilo e mantêm certo tom cerimonial que induz a pensar num escritor de formação rabínica. Para isso contribui a presença no texto de não escassos elementos literários que são tipicamente hebraicos.
Língua, tempo e lugar de composição
Este Evangelho, como todos os livros do Novo Testamento, chegou a nós em língua grega. Desde os primeiros séculos da vida da Igreja, vem-se discutindo a possibilidade de que fora redigido inicialmente em aramaico e traduzido mais tarde para o grego; mas não há nenhuma fundamentação histórica de ter sido assim. O certo é que o texto grego de Mateus é o único que se conhece. No entanto, devido aos abundantes idiotismos semíticos que há no texto, o seu autor deve ter sido um judeu cristão que escreveu para leitores igualmente de origem judaica, mas de fala grega.
Com respeito ao lugar e tempo da composição do Evangelho, não é possível fixá-los com exatidão. Muitos pensam que pode ter sido escrito em terras da Síria, talvez em Antioquia, depois que os exércitos romanos destruíram Jerusalém no ano 70.
Esboço:
1. Infância de Jesus (1.1—2.23)
a. Genealogia de Jesus Cristo (1.1-17)
b. Nascimento e infância de Jesus (1.18—2.23)
2. Começo do ministério de Jesus (3.1—4.11)
a. Pregação de João Batista (3.1-12)
b. Antecedentes do ministério de Jesus (3.13—4.11)
3. Ministério de Jesus na Galiléia (4.12—13.58)
a. Começo do ministério (4.12-25)
b. O sermão do monte (5.1—7.29)
c. Atividades de Jesus (8.1—9.38)
d. Instrução dos apóstolos (10.1—11.1)
e. Atividades de Jesus (11.2—12.50)
f. As parábolas do Reino (13.1-58)
4. Ministério de Jesus em diversas regiões (14.1—20.34)
a. Atividades de Jesus (14.1—17.27)
b. Sermão sobre a vida da comunidade (18.1-35)
c. Atividades de Jesus (19.1—20.34)
5. Jesus em Jerusalém: semana da paixão (21.1—28.20)
a. Atividades de Jesus (21.1—23.39)
b. Sermão sobre o final dos tempos (24.1—25.46)
c. Paixão, morte e ressurreição (26.1—28.20)
a.C. antes de Cristo
c. cerca de
d.C. depois de Cristo
? O ponto de interrogação, precedido de um espaço e colocado após a significação de um nome, indica que essa significação é duvidosa. Uma data duvidosa é indicada da mesma forma.
cf. conferir
séc. século
p. por exemplo
Km quilômetro(s)
NT Novo Testamento
m metro(s)
km² quilômetro(s) quadrado(s)
Sociedade Bíblica do Brasil. 1999; 2005. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada . Sociedade Bíblica do Brasil
Postado por Pr Andre Henrique Torres Ribeiro às 01:36 http://img2.blogblog.com/img/icon18_edit_allbkg.gif



Evangelho de João
ΚΑΤΑ ΙΩΑΝΝΗΝ
Tema. O evangelho de João é um acervo de testemunhos que provam que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Foi escrito por João em resposta a um apelo da Igreja - que já possuía os outros evangelhos - pelas verdades mais profundas do Evangelho, visando promover a vida espiritual da Igreja. Contém a substância da pregação de João, as verdades espirituais que ele recebera do Senhor. O propósito do autor é apresentar Cristo a todos os cristãos como o Verbo encarnado de Deus.
Autor. O apóstolo João. Autores confiáveis dos primeiros séculos informam-nos que João escreveu o evangelho no fim do primeiro século, e que substancialmente incorporava a pregação das verdades mais profundas que ele apreendera da comunhão íntima com Cristo.
De todos os apóstolos, foi João quem desfrutou de maior comunhão com o Mestre. Pertenceu ao círculo íntimo constituído, além dele, por Pedro e Tiago, que tiveram o direito exclusivo de estar presentes nas grandes crises do ministério de Jesus, tais como a transfiguração e a agonia no Getsêmani. Foi João quem se inclinou sobre o peito de seu Mestre durante a ceia pascal; foi ele quem acompanhou Jesus ao julgamento, quando os outros discípulos tinham fugido ao 18:15). De todos os apóstolos, foi ele o único que esteve ao pé da cruz para receber a mensagem de Cristo antes de este morrer ao 19:25-27). Essa intimidade e comunhão com o Senhor, aliada a meio século de experiência como pastor e evangelista, qualificaram-no para escrever este evangelho, que contém as doutrinas mais espirituais e sublimes de Cristo.
Para quem foi escrito. Para a Igreja em geral. O evangelho de João foi escrito muitos anos depois dos outros três. Estes, em termos gerais, contêm uma mensagem evangélica para os homens não espirituais; são evangelhos missionários. Cristãos de todas as partes, de igrejas estabelecidas pelo trabalho dos apóstolos, passaram a solicitar uma declaração das verdades mais profundas dos ensinos de Jesus. João escreveu seu evangelho para satisfazer a esse apelo.
É evidente, pelos seguintes fatos, que este evangelho foi, primeiramente, escrito para cristãos:
1. As doutrinas sobre alguns dos temas mais profundos do Evangelho - a preexistência de Cristo, a encarnação, a relação com o Pai, a pessoa e a obra do Espírito Santo ˆindicam que foi escrito para um povo espiritual.
2. O autor presume que as pessoas a quem se dirige estão familiarizadas com os outros três evangelhos, porque omite a maioria dos acontecimentos bastante conhecidos da vida de Jesus, exceto, naturalmente, os que se relacionam com a paixão e a ressurreição, sem os quais nenhum evangelho poderia estar completo.
João 14
1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. a
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar.
3 E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez b e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também.
4 Mesmo vós sabeis para onde vou e conheceis o caminho. c
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais e como podemos saber o caminho? d
6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e e a verdade, e a vida. f Ninguém vem ao Pai senão por mim. g
7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e  desde agora o conheceis e o tendes visto.
8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. h
9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; i e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.
11 Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras.
12 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. j
13 E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, l para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.
15 Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. m
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, n para que fique convosco para sempre,
17 o Espírito da verdade, que o mundo o não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei p para vós.
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; q porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia, r conhecereis que estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; s e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.
22 Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): t Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós e não ao mundo?
23 Jesus respondeu e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.
24 Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou. u
25 Tenho-vos dito isso, estando convosco.
26 Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, v vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; x não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
28 Ouvistes o que eu vos disse: vou e venho para vós. z Se me amásseis, certamente, exultaríeis por ter dito: vou para o Pai, porque o Pai é maior do que eu.
29 Eu vo-lo disse, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.a
30 Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo b e nada tem em mim.
31 Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como o Pai me mandou.cLevantai-vos, vamo-nos daqui.
a 14.1 Credes em Deus... em mim: Outra tradução possível: Crereis em Deus e também crereis em mim.
b 14.3 O regresso de Jesus alude à sua presença constante entre os seus depois da ressurreição, por meio do Espírito Santo (14.16-28; 15.26; 16.7-15), e, além disso, pode fazer referência à sua vinda no final dos tempos (cf. Mt 16.27; 25.31-34; 1Ts 4.16-17; 1Jo 2.28).
c 14.4 Sabeis para onde vou e conheceis o caminho: Outros manuscritos dizem:Sabeis o caminho que leva para onde eu vou.
d 14.5 Sobre esta pergunta, ver Jo 3.3-4, n.
e 14.6 O caminho: Cf. Sl 16.11; 86.11; Pv 15.24.
f 14.6 E a verdade, e a vida: Cf. Jo 1.4; 3.16; 11.25; 17.3. Ver Jo 6.35, n.
g 14.6 Mt 11.27; Jo 1.18; 6.46; At 4.12.
h 14.8 Sobre esta reação de Filipe, ver Jo 3.3-4, n.
i 14.9 Jo 12.45; cf. Jo 1.18; Cl 1.15; Hb 1.3.
j 14.12 Estas obras maiores Jesus mesmo as fará por meio do Espírito Santo que dará aos discípulos (cf. 15.5; 16.7).
l 14.13-14 Jo 15.7; 16.23-24; cf. Mt 7.7-11; 21.22; Lc 11.9-13; 1Jo 3.21-22; 5.14-15.
m 14.15 Cf. Jo 14.21; cf. também Dt 6.4-9; 11.1; 1Jo 5.3.
n 14.16 Consolador: Aqui e em 14.26; 15.26; 16.7, se dá ao Espírito Santo o título deConsolador (em grego parákletos), também próprio de Jesus (notar “outro Consolador” e 1Jo 2.1). O apelativo tem matizes jurídicos (advogado defensor; cf. 16.8-11). A palavra grega se relaciona com o verbo que também significa consolar.
o 14.16-17 Mundo: Ver Jo 1.10, n.
p 14.18 Voltarei: Ver Jo 14.3, n.
q 14.19 Cf. Jo 16.16-22.
r 14.20 Naquele dia: Os profetas utilizavam esta expressão (ou naquele tempo) para se referirem à intervenção de Deus na história humana (cf. Jr 30.8). Aqui, Jesus a usa para designar o período depois da sua ressurreição e do Pentecostes, quando os discípulos alcançariam um conhecimento mais completo dos seus relacionamentos com Jesus e deste com o seu Pai.
s 14.21 Jo 15.10; 1Jo 5.3; 2Jo 6.
t 14.22 Cf. Lc 6.16; At 1.13.
u 14.24 Jo 7.16; 14.10.
v 14.26 Em meu nome: Isto é, a pedido meu (cf. vs. 16-17) e em representação minha.
x 14.27 A paz (palavra que usam os semitas na saudação e na despedida) inclui os diversos bens que Jesus dá aos seus (cf. Nm 6.26; Sl 29.11; Is 9.6-7; 57.19; Lc 2.14; Jo 16.33; 20.19,21,26; Rm 5.1; Ef 2.14).
z 14.28 Cf. Jo 14.3.
a 14.29 Jo 13.19.
b 14.30 O príncipe deste mundo: Ver Jo 12.31, n.
c 14.31 Cf. Mt 26.46; Mc 14.42.
Sociedade Bíblica do Brasil. 2002; 2005. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Corrigida . Sociedade Bíblica do Brasil
Apóstolo João, foi um dos doze apóstolos de Jesus e além do Evangelho segundo João, também escreveu as três epístolas de João (1, 2, e 3) e o livro doApocalipse.
João seria o mais novo dos 12 discípulos, tinha provavelmente cerca de vinte e quatro anos de idade à altura do seu chamado por Jesus. Consta que seria solteiro e vivia com os seus pais em Betsaida. Era pescador de profissão, consertava as redes de pesca. Trabalhava junto com seu irmão Tiago, e em provável sociedade com André e Pedro.
As heranças deixadas nos escritos de João, demonstram uma personalidade extraordinária. De acordo com as descrições ele seria imaginativo nas suas comparações, pensativo e introspectivo nas suas dissertações e pouco falador como discípulo. É notório o seu amadurecimento na fé através da evolução da sua escrita.




De todos os doze apóstolos, João Zebedeu finalmente tornou-se o mais destacado teólogo. Ele morreu de morte natural, em Éfeso, no ano103 d.C., quando tinha 94 anos. Segundo bispo Polícrates de Éfeso em 190 (atestada por Eusébio de Cesareia na sua História Eclesiástica, 5, 24), o Apóstolo "dormiu" (faleceu) em Éfeso. Contudo, conta-se que a mesma estava vazia quando foi aberta por Constantino para edificar-lhe uma igreja.
Segundo algumas interpretações João era o apóstolo que Jesus mais amava. Ele tinha um enorme afeto pelo Senhor e vice-versa.